18 de dezembro de 2019

A Estrada da Madeira e as Razões para Colonização do Alto Vale

A pesquisa sobre este tema revelou-se um trabalho bastante interessante, haja visto a dificuldade em encontrar registros a respeito destes temas.

A ESTRADA DA MADEIRA


    A pesquisa sobre este tema revelou-se um trabalho bastante interessante, haja visto a dificuldade em encontrar registros para o que primeiramente foi denominada como uma “picada” margeando o rio, ou até pela denominação que é dada para a estrada em cada local que ela passa. Por exemplo, em Lontras atualmente, no sentido centro até a Rio do Sul, chama-se Paulo Alves Nascimento, do Centro no sentido Riachuelo chama-se Oswaldo Schroeder, mas na época do desbravamento, este caminho chamava-se estrada Blumenau-Curitibanos, mais tarde “Estrada da Madeira” já que por ela escoava a produção de uma das primeiras atividades econômicas dos colonos, a extração de madeira. Nos últimos tempos, tirando as denominações locais em cada município, este caminho ficou conhecido apenas como “Estrada Blumenau”. 
    Nosso ponto de partida mais uma vez foi o arquivo histórico de Blumenau, onde encontramos com a data de 01 de Maio de 1864 um manuscrito assinado pelo Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau endereçado ao Sr. Francisco J. de Oliveira (na época Vice-Presidente da então Província de Santa Catarina) um pedido de autorização para exploração, demarcação de picadas e mapeamento dos limites da região do Alto Vale.
    
    Talvez seja o mais antigo documento que marca a origem da estrada, na época denominada estrada Blumenau-Curitibanos. Encontramos mais alguns registros e passagens sobre a estrada a partir da data acima mencionada, mas pesquisar sobre a origem deste empreendimento nos levou também a um artigo importante escrito pelo Prof. Dr. Wilhelm Wachholz que encontramos no site da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) que nos fala sobre as razões para a colonização do Alto Vale do Itajaí e certamente são registros muito interessantes. Vejamos a seguir:

 

AS RAZÕES PARA A COLONIZAÇÃO


DO ALTO VALE DO ITAJAÍ


    Três razões podem ser relacionadas diretamente a respeito da colonização do Alto Vale:
    1) Eliminação de Nações Indígenas: Pode-se perceber que, desde 1825, a localização de imigrantes em solo brasileiro foi ocorrendo cada vez mais em áreas povoadas por indígenas que acabavam sendo eliminadas. Estes foram eliminados especialmente ao longo das estradas como forma de garantir a segurança diante dos selvagens. A atitude hostil dos indígenas implicou em grandes dificuldades para a instalação da estrada e da linha telegráfica ligando Blumenau a Lages; a nova colônia crescia com lentidão, pois as notícias desfavoráveis acerca dos indígenas alcançavam os núcleos mais antigos. Portanto, entendia-se que era necessário eliminar o intruso, neste caso, o índio.
    O primeiro contato não armado entre a facção Laklanõ (índios), da região do alto vale do Itajaí, e os brancos se deu em 1914 junto à confluência do rio Plate com o rio Hercílio (Itajaí do Norte), onde havia um posto de atração. Ele se deu através do funcionário do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, que ficou conhecido como “o pacificador”, e que foi chefe do posto até os anos 50. Segundo seus relatórios, nas primeiras décadas após a pacificação, os Xokleng continuaram fazendo incursões pela floresta e às vezes se atracando com colonos. Esporadicamente apareciam no posto para pegar alimentos, roupas ou por estarem muito doentes. As incursões dos Xokleng pelas florestas da região fez com que a ação dos bugreiros, mantidos tanto pelo governo quanto pelas companhias de colonização e pelos colonos, durasse até o início de 1940.

2) Valorização Fundiária: Em âmbito geral, no Brasil, procurou-se assentar os imigrantes em pequenas propriedades, próximas às grandes propriedades, para que estas fossem valorizadas. Por isso, pode-se perceber que   a maioria das pequenas propriedades se localiza ou nas encostas da serra, ou em áreas sujeitas à inundação, ou ainda em terras inférteis. 
    Isso pode ser observado também na geografia do Alto Vale do Itajaí. Trata-se de uma região acidentada que, por outro lado, se localiza entre a região litorânea e o planalto, onde as terras, por serem planas, eram mais interessantes e cobiçadas. A colonização das áreas ao entorno das terras da serra as valorizaria ainda mais, sobretudo, se os colonos auxiliassem na construção e conservação das estradas.
3) Construção e Conservação de Estradas: A colonização do Alto Vale do Itajaí, também pode ser analisada sob esta ótica. Suas terras não se localizam no final de uma estrada, mas serviram de pontos de ligação entre o litoral e as terras cobiçadas do planalto. Através do Vale se procurou ligar o planalto com a região litorânea. Em 1867, por ordem do colonizador Dr. Hermann Blumenau, sob direção do engenheiro alemão Emil Odebrecht, fora aberta a primeira picada, à margem da qual seria posteriormente (1893-1897) construída a linha telegráfica, ligando Blumenau a Lages.
Percebe-se que ao longo desta picada e linha telegráfica foram assentados colonos que auxiliaram na segurança e preservação das mesmas. Colonizar o Alto Vale, portanto, significou contar com o apoio dos colonos não somente na construção da estrada, mas também na sua conservação bem como na segurança aos passantes ante o perigo das populações indígenas remanescentes.
    Em um outro artigo encontrado na internet chamado de “Interpretação Sociológica do Catarinense” escrito pelo Professor Evaldo Pauli - Prof. da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - completa o que foi acima exposto:
    “Quando se abriu a estrada pelo Vale do Itajaí, ligando a colônia de Blumenau com o Planalto, veio uma importante oportunidade para a colonização. Em 1864 o engenheiro Emílio Odebrecht recebeu a incumbência de traçar a estrada de rodagem de Blumenau a Curitibanos ligando assim o vale e o próprio planalto ao estuário de Itajaí. Recebiam os contratantes dos diversos trechos de estrada a construir um terço em dinheiro e dois terços em terras. Nasceram dali numerosas localidades”.
A seguir, relatamos algumas passagens sobre a construção e outras ocorrências na estrada, encontradas no inventário analítico de documentos, coleção colonização, disponível no arquivo histórico de Blumenau, na maioria correspondências do Dr. Blumenau endereçadas a presidência da Província de Santa Catarina:
Fevereiro de 1871  - Comunica a urgência de proceder a exploração dos sertões d’Oeste pelo Engenheiro Emil Odebrecht, para medição, loteamento e futura venda.
Agosto de 1871 - Comunica a volta do Engenheiro Emil Odebrecht da expedição realizada no Alto do Itajaí - Açú.
Outubro de 1878 - Pede verba para dar continuidade a estrada Blumenau / Curitibanos que está abandonada.
Novembro de 1879 - Notifica envio de armas aos operários das estradas do sertão, para evitar ataques de onças e índios.
Janeiro de 1880 - Informa que acalmou lombardos do Riachuelo. Causa do tumulto: atraso no pagamento.
Janeiro de 1881 - Solicita com urgência autorização para fornecer medicamentos gratuitos às vítimas da febre no Riachuelo.
    Como podemos constatar, a abertura de estradas foi motivada pelos interesses e esforços do governo, das companhias de colonização e a iniciativa de imigrantes que trouxeram a cultura européia para a região. Tendo estradas, uma das primeiras atividades econômicas dos colonos camponeses foi a exploração da madeira, abundante na região. A possibilidade de obtenção de capital, conseguido com a venda das toras e o conseqüente  investimento na nova propriedade, foi um dos atrativos aos descendentes dos imigrantes alemães, italianos e outros, que vieram para o Alto-Vale do Itajaí.

 

 

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