18 de dezembro de 2019

Emancipação Política, o Crescimento e a Criação do Distrito de Lontras

 Como Já vimos nas edições anteriores deste guia, a região de Lontras pertencia às terras que foram divididas da colônia de Blumenau...

A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA


    Como Já vimos nas edições anteriores deste guia, a região de Lontras pertencia às terras que foram divididas da colônia de Blumenau, então todos os registros que encontramos nos arquivos sobre o início da colonização em 1850, fazem referência a Blumenau para estas terras.
    Somente a partir de 1931, ano da emancipação política de Rio do Sul é que estas terras deixaram de pertencer a Blumenau, mas fazíamos parte a partir de então do município vizinho. A partir de 1944 Lontras foi promovida a condição de distrito de Rio do Sul, e em 1961 foi emancipada, mas até ai foram 111 anos de uma longa trajetória.  


A COLONIZAÇÃO E A COMUNICAÇÃO


    Para possibilitar a instalação dos imigrantes nas colônias catarinenses necessitava-se de três suportes básicos: financiamento governamental, terras disponíveis e companhias colonizadoras. A manutenção dos imigrantes nas colônias exigia a abertura de vias de comunicação para manter a colônia em contato com os portos catarinenses, condição necessária para escoar a produção mercantil.
    No Vale do Itajaí, a Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Blumenau-Itajahy, por meio do rio Itajaí-açú, colocava Blumenau em contato com o porto de Itajaí.

    Para as colônias que ficavam mais a oeste de Blumenau, (alto vale) a comunicação era feita apenas por “picadas”, uma vez que neste trecho o rio apresenta fortes correntezas. Os núcleos coloniais de Hammonia (Ibirama), Aquidaban (Apiúna) e Bela Aliança, (Lontras e Rio do Sul) ficavam  praticamente isolados de Blumenau.
    Apesar do avanço da estrada de rodagem, que atingiu Lontras em 1894 e melhorou as comunicações com núcleos mais fortes, as más notícias se traduziam em cautela. Afinal, o território nada mais era do que mato atravessado por uma picada.
     Pelo trecho, pequenas cruzes indicavam os locais onde eram mortos moradores e tropeiros. Muitos, vítimas de assaltos dos selvagens.
Dos olhos dos imigrantes europeus brotava a esperança de uma vida próspera nos vales. Rumar para o alto vale era a saída para alguns colonos que não conseguiam terras baratas em Blumenau. Mas, fixar residência em um local ainda mais desafiador, era ter a certeza de se lançar a própria sorte. E foi com lama até os joelhos, que muitos homens e mulheres se aventuraram, trazendo seus poucos pertences para esta direção.
    Mesmo com o processo de pacificação dos indígenas iniciado pelo governo do estado no início da década de 1900, eles ainda aterrorizavam as pequenas comunidades que surgiam no Alto Vale. A única maneira de conseguirem se defender, por muitas vezes era apoiar os caçadores de bugres, que armavam as tocaias e dizimavam famílias inteiras na madrugada. De fato, a tranqüilidade reinou apenas com o aldeamento dos índios em terras do Vale Norte do Itajaí.
    Segundo o Departamento Estadual de Estatística, foi com a construção das estradas que cortaram o Rio Itajaí do Sul em 1908 e Trombudo em 1911, que a vida social começou a ser independente de Blumenau. Depois de trabalharem para construí-las, os trabalhadores ganhavam lotes de terra e passavam a habitar essas regiões. Multiplicava-se então, o número de famílias na nova colônia. Foi neste ano que os moradores das partes mais baixas passaram por uma das maiores provações de que se tem notícia, a enchente. As águas subiram acima dos 14 metros, destruindo casas e plantações.


O CRESCIMENTO


    Apesar de manter características rurais, o destacado crescimento elevou a área à categoria de vila sede do distrito em 1912, passando a ser chamada de Bela Aliança. Nas ruas de terra batida, passaram a circular os funcionários públicos. A cada quilômetro que as estradas avançavam pelo vale, levavam o desenvolvimento e a certeza de uma vida um pouco mais fácil para quem era obrigado a enfrentar as picadas a pé ou a cavalo. Além de fortalecer as comunicações de uma região com pouca infra-estrutura, geravam uma movimentação econômica, impulsionando o tráfego de mercadorias.

Até meados de 1920, tudo girava em torno da agricultura. Mesmo não sendo mecanizada, ela era responsável pela convergência das atividades. Os colonos produziam nas localidades afastadas e comercializavam seus produtos nas mercearias de Bela Aliança. Dali, a produção era encaminhada à Blumenau e outros pólos regionais.
    A vida na vila era pacata, as crianças freqüentavam as escolas, onde a língua oficial era o alemão. Em sua maioria iam descalças, levando debaixo dos braços a Bíblia Sagrada, obrigatória. Nas comunidades, durante muitos anos os moradores se reuniam uma, duas vezes ao ano para acompanharem o culto evangélico. Havia um único pastor que percorria as tifas e os mais longínquos lugares para atender o clamor dos fiéis pela palavra divina. Nos tempos de guerra, muitas escolas foram fechadas e até as pregações religiosas eram proibidas na língua dos imigrantes alemães.
      Um resultado importante desse crescimento veio mais tarde. O primeiro sinal de melhoramento urbano foi dado com o acendimento da primeira lâmpada, pelos idos de 1928. A energia era fornecida por um locomóvel instalado em uma serraria no encontro dos rios (Rio do Sul). A máquina, alimentada à lenha, movia um dínamo-gerador que supria a demanda de pelo menos 40 residências. Um marco, que recompensou o sacrifício que foi desembarcar o equipamento do trem em Subida (Lontras), e transportá-lo de carretão pelas estradas precárias da região.
      O fator que mais contribuiu para o crescimento do alto vale foi o avanço da EFSC. Atingido Lontras em 1929, o trem passou a rasgar as paisagens  para consolidação de um novo ciclo, o da madeira. Com o apitar da locomotiva as madeireiras surgiram por todas as partes, principalmente próximas à estação.
    Por todos os lados as florestas guardavam as mais variadas espécies de madeiras nobres. Do alto dos morros eram retiradas a canela, o cedro, a peroba e a imbúia. Das várzeas brotavam o pequiá, a guabiroba e a cacheta. Nos fachinais cresciam a bracatinga, o cambará e os pinheiros. Aos olhos, uma riqueza inesgotável. Os primeiros a explorarem estas vegetações foram os colonos. Depois de comprarem os lotes de terras das companhias de colonização, muitos procuravam as serrarias  para vender as árvores. Além de conseguirem recursos para o pagamento das propriedades, era a maneira mais simples de abrirem as clareiras para a agricultura.
    A estrada de ferro era o principal meio de transporte das cargas. Apesar de a madeira ocupar a maior parte dos vagões, viajar de trem era uma festa. Havia música, comida e bebida. 


O DISTRITO DE LONTRAS


    Em Abril de 1934, o jornal “O Agricultor” publicou a seguinte reportagem sobre os movimentos que então já se esboçavam pela criação do distrito de Lontras, que até então era apenas uma povoação do jovem município de Rio do Sul. “Encontra-se nas mãos do Prefeito provisório de Rio do Sul um memorial assinado por elementos representativos de Lontras, no qual é solicitada a criação de um distrito naquele futuroso lugar. A renda de Lontras é de quarenta e poucos contos de réis, e a sua distância de Rio do Sul é de 13 quilômetros de estradas ruins...”
    Em outro trecho da mesma reportagem, continua: “Acresce ainda a favor de Lontras o fato recomendável de possuir inúmeros negócios, boas construções e um povo trabalhador e progressista, que, fundado seja o distrito, não poupará os melhores esforços em tornar aquela rica região admirada por todos e digna de sua almejada condição de distrito.” 
    Segundo publicou o Jornal Nova Era, na edição de 19 de março de 1944, “O distrito de Lontras foi criado pelo Decreto Estadual nº 941 de 31 de Dezembro de 1943, e instalado em 15 de março de 1944.” E finalmente, em 1961, Lontras foi emancipada do Município de Rio do Sul. O município foi criado através da Lei nº 791, de 19 de dezembro de 1961, e oficialmente instalado no dia 31 de dezembro de 1961, quando então se desmembrou do município de Rio do Sul.
 

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