21 de novembro de 2019

O Desenvolvimento de Lontras e o Último apito do Trem

Depois da chegada do trem, Lontras teve um grande impulso em seu desenvolvimento.

Desenvolvimento

Depois da chegada do trem, Lontras teve um grande impulso em seu desenvolvimento, e em torno da estação de Riachuelo se instalaram inúmeros empreendimentos, visando justamente explorar a proximidade do local onde chegavam e saiam as cargas e as pessoas. 
Em entrevista recente com a Sra. Giesela Ratzmann, nascida em 1932 e que nos forneceu fotos e relatos preciosos, obtivemos muitas informações sobre as atividades que giravam em torno da estação de trem do Riachuelo, entre elas podemos destacar as casas de comércio, hotel, serraria, a fecularia dos Christen, a oficina que era do Sr. Antônio Geyer em sociedade com o Sr. Rodolfo Ratzmann, esposo da Sra. Giesela.


Rodolfo Ratzmann, nasceu em 1917 e faleceu em 1979. A Sra. Giesela nos relata que nesta época de trabalho duro, o pessoal encontrava maneiras de se divertir em seus momentos de lazer, como as pescarias que eram muito comuns, assim como as festas de Rei e muita música, tanto que o Sr. Rodolfo e o Sr. Antônio Geyer tinham um conjunto musical, muito famoso na época, o Jazz-Band Rouxinol, que inclusive se apresentou na festa do centenário de Blumenau.
Em outra entrevista, com o Sr. Esidio Carturano, popularmente conhecido como “Seu Neni”, nascido em 1924 em Brusque, mas em 1926 veio para Lontras, nos relatou muitos fatos interessantes e sua história de vida o transforma naturalmente em uma testemunha viva do crescimento e desenvolvimento de Lontras. Segundo seus relatos, seu pai comprou uma propriedade em Lontras, para trabalhar na extração da Madeira, atividade predominante na época, e após a retirada da madeira, as terras eram destinadas a atividades agrícolas, como a plantação de milho e principalmente mandioca, o que explica o grande número de fecularias que existiam na região e inclusive elas concorriam entre si, como nos relata o Sr. Neni. “Houve uma época em que os farinheiros, como eram conhecidas as fecularias, faziam uma concorrência entre elas, o que elevava o preço da mandioca e deixava os produtores contentes”. As maiores eram a Firma Rauh, os Jacobsen, os Christen, o Willy Schultz na Subida, até a Lorenz de Apiúna vinha comprar por aqui.


“Quando viemos morar na localidade de Atafona, (1926) nosso terreno ficava próximo ao local onde hoje é a Igreja de Atafona e o trem ainda não passava por ali, eles estavam trabalhando no trecho, somente depois, em 1931 é que eles venceram a serra...”
“Com 8 anos eu ia para o mato ajudar meu pai, tirando a casca das madeiras. Com 12 anos eu lembro de estudar na escola do seu Cândido Rodrigues, que mais tarde veio a ser Prefeito em Lontras. Eu ia a cavalo até o centro da cidade, onde ficava a escola dele, ali ao lado do casarão Schroeder, isto em 1936. Este trajeto era feito em uma, até uma hora e meia no lombo de um cavalo, para ir e o mesmo tempo para voltar. Depois continuei a trabalhar na serraria, naquele tempo se trabalhava inclusive aos sábados... dia de folga era somente aos domingos...”. Mais tarde, seu Neni nos relata que foi trabalhar como caminhoneiro, primeiro como empregado, depois como proprietário de seu próprio caminhão. Esta fase do desenvolvimento de Lontras se dá com o auge da extração da madeira na região, onde os caminhões disputavam o espaço com os trens, e ganhavam cada vez mais terreno, devido a agilidade no transporte.

Fim da Linha

Texto extraído do livro “Rio do Sul, uma história” de João Klug e Valberto Dirksen - Fundação Cultural de Rio do Sul.
“No final da década de 1950, o Brasil deu uma guinada muito grande que favoreceu o transporte rodoviário, prejudicando o ferroviário. Muitas ferrovias brasileiras foram então fechadas porque não davam mais lucros satisfatórios. A EFSC continuava operando e seu material e sua linha já eram obsoletos devido à falta de recursos e manutenção. Com a construção da rodovia BR-470, a situação da Estrada de Ferro agravou-se ainda mais. A rodovia oferecia à população “a magia” de se chegar onde queria em pouco tempo, além de aparecerem também, a partir de 1970, caminhões e carros mais modernos. Os enormes cargueiros com mais de trinta vagões, que diariamente cruzavam pelas cidades do Vale do Itajaí, transformaram-se rapidamente em acanhados trens mistos de, no máximo, oito vagões. Foi assim que os próprios trens de passageiros, ainda transportando pessoas por preços baixíssimos, passaram a ser desprezados. Todos queriam usufruir dos modernos ônibus, mais rápidos, mais confortáveis e, acima de tudo, mais pontuais.” Segundo consta, a última viagem da Maria Fumaça sobre os trilhos do Vale do Itajaí ocorreu no dia 13 de março de 1971.


O Último Apito
Acima, um registro histórico feito pelo ótimo e sempre atento fotógrafo Thiago Diniz, o “seu Dico”, no dia em que o apito ecoou pela última vez nos trilhos do Alto-Vale. Quem nos relata os fatos deste dia é a filha do seu Dico, Marina Diniz...(Obrigado Marina.) ”Não me lembro muita coisa, mas meu pai fez a foto, estava comigo a Neuza Farias. Neste dia como tantos outros estavamos todos ansiosos e também tristes, pois seria o último dia que veriamos o trem. A foto foi tirada nos fundos da nossa casa, na Rua Paulo Alves do nascimento 317, onde moramos até hoje. Me lembro que eu via todos os dias o trem passar e todos os dias era a mesma festa, parecia ser sempre a primeira vez que eu o via, ele vinha apitando de longe, existia também a liturina, mas eu gostava mesmo era do trem. Brinquei muito nos trilhos, escutava o trem nos dormentes, com o passar do tempo sabia, ou achava que sabia a distância dele até em minha casa. As vezes minha mãe pedia para eu ir até a venda do Sr. Milnitz em vez de passar pela estrada eu ia pelos trilhos mesmo contra a vontade dela, pois era perigoso, mas eu ia em horários que o trem não passava. Andei muito de trem com meus pais e minhas irmãs. Mesmo com tantos outros brinquedos a minha diversão por incrível que pareça era nos trilhos do trem. Bons tempos aqueles”.

Novos tempos

Com a abertura de novas estradas e a melhoria na indústria automotiva, os lontrenses se ocupam de novas funções para garantir o sustento de suas famílias. Ser caminhoneiro nesta época era um desafio, os caminhões ainda eram limitados, os motoristas viajavam com correntes para usar nos pneus em estradas lamacentas, com as ferramentas, levavam pá, enxada e picareta, numa época que a solidariedade e a confiança faziam parte da rotina das estradas... 
Cláudio Cordeiro, comerciante em Lontras, nos conta que seu avô, Henrique Kremer, foi um dos pioneiros em relação a transportes em Lontras: “No início dos anos 50, fazia o trajeto para São Paulo, grande parte em estrada de terra, pois existia pouco asfalto”. Já dona Luiza Cardoso, nascida em 1928, antiga moradora do Jardim Primavera em Lontras, que tem muitas histórias para nos contar e revelaremos na próxima edição deste guia, nos entregou a foto abaixo e nos disse: “O Manoel Ribeiro também foi um dos primeiros motoristas de caminhão em Lontras”.

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