A Colonização de Lontras e a Comunidade Evangélica - 116 anos
De Indaial, veio o pastor Max Ziegel no ano de 1900 para celebrar um culto em Lontras, numa casa particular, para as famílias evangélicas imigradas, algumas há quase 10 anos. O dia em que este culto foi celebrado é desconhecido, no mesmo culto também participaram famílias católicas. O primeiro colono evangélico de cuja imigração se tem notícia foi Rudolpho Danker. Ele era proprietário da tropa de mulas para carga - Lasteselntruppe - com as quais supria as necessidades de transporte de diversas mercadorias para os colonos. O seu filho Arthur lembra que Rudolpho chegou aqui em 1896. Na época um dos filhos tinha 12 anos. Os vizinhos mais próximos eram Hans Rohver no Riachuelo e Peter Frankenberg em Matador. Os imigrantes enfrentaram os perigos da mata e o ataque dos índios que viam a sua propriedade ser invadida. Colonos e índios se tornaram inimigos de morte com baixas de ambos os lados, até a dizimação quase total dos nativos, numa luta mortal. A partir de 1901, o pastor Karl Bergold começou a visitar as famílias evangélicas imigradas uma vez por ano, depois duas e por fim três vezes ao ano. Em sua crônica de 1906, ele registra que prega a Palavra de Deus para a Comunidade de Indaial e ainda para os habitantes de Lontras.
Os cultos eram realizados na cabana dos imigrantes, que o governo tinha mandado construir muitos anos antes, para estimular a vinda de colonos para o Alto Vale e também servir-lhes de primeiro abrigo. Essa tentativa fracassou e o prédio abandonado se estragou muito sob o efeito do tempo. Mesmo assim o Sr. Mueller instalou na cabana a sua moradia e ali lecionava com os poucos recursos de que dispunha. Desde o início, também ali recebia os colonos para os cultos. A cabana parecia um grande e velho celeiro. No interior não havia paredes divisórias: em um canto, achava-se o fogão; no centro, onde o telhado ainda estava inteiro, colocaram as camas, no outro canto, os bancos da escola. Tábuas e vigas estavam enegrecidas pelo tempo e pela fumaça.
O assoalho deixava entrever o chão e as paredes, tinham buracos por onde se podia passar a cavalo. Cuidadosamente o velho Mueller cobria esses buracos com folhas de palmito, para receber as pessoas para os cultos. Assim o ambiente se tornava alegre, festivo e acolhedor. Essa construção se localizava na área onde hoje ainda se encontram os restos do antigo cemitério evangélico - (Um pouco acima da Marmoraria Afonso Paul). Animados pelo pastor, os moradores providenciaram a demolição da velha cabana para reconstruí-la, agora com dimensões menores, mas de melhor aspecto. A nova construção servia de escola e templo. Ali, o pastor vindo de Indaial, continuou a pregar, batizar e confirmar. Moradores de Matador também vinham participar dos cultos.
O livro de registro da Paróquia de Indaial menciona como primeiros batizados em Lontras na data de 28 de abril de 1901: Oskar Christen, filho de Alfred e Selma, nascida Reinicke; Clara e Rudolf Danker, filhos de Rudolf e Wiebke, nascida Holling e os primeiros confirmados receberam a bênção no dia 28 de maio de 1905. Seus nomes: Hermann Plaase, Franz Haase, Leopold Christen, Richard Ullrich, Hermann Ullrich, Hermann Danker, Emma Danker, Wanda Wolf, Frida Christen, Amalie Schacher, Olga Christen e Anna Haase. (Mencionamos estes nomes todos para se ter uma idéia das primeiras famílias que por aqui surgiram).
Alguns anos mais tarde, a comunidade avançou mais um passo: “Em 1908 foi construído um novo prédio de madeira para a escola, desta vez com janelas envidraçadas e coberto com telhas. A mesma foi inaugurada e posta em funcionamento no dia 7 de setembro.” A partir de 1909, as famílias evangélicas do Alto Vale passaram a ser assistidas pelo pastor Gerhard Hobus. Em 1910 o pastor Heinrich Radlach assumiu as atividades como pastor itinerante e quando se despediu, em 1920, já havia 8 locais de pregação. A ele se deve o início dos livros de registro. Em 1926, o pastor Leonhard Grau serviu com dedicação e espírito amável aos evangélicos da região até 1936. Desde logo incentivou os membros de Lontras a construírem a sua Igreja.
Os recursos foram se somando lentamente, com muito empenho, em favor das obras da Igreja. Após vários anos, foi lançada a pedra fundamental no dia 6 de junho de 1937. Nesta mesma época o pastor Hermann Stoer, falecido em 29 de setembro de 1989 em Rio do Sul, tinha assumido a assistência espiritual das comunidades do Alto Vale. Ele serviu a Comunidade Evangélica de Lontras até 1961, quando por sua iniciativa, criou-se a Paróquia Evangélica de Lontras. No dia 25 de junho de 1937, sob a liderança do pastor Stoer, as senhoras fundaram a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas - OASE de Lontras com a finalidade de incentivar e promover obras sociais. Na liderança da Comunidade, destacaram-se como primeiro presidente o Sr. Rudolf Krieck e como tesoureiro, o Sr. Henrique Guse, conforme a ata mais antiga encontrada: 14 de janeiro de 1923.
No dia 27 de novembro de 1938, após um ano de obras, foi inaugurada em culto festivo a Igreja Apóstolo João de Lontras. Na noite do Natal de 1955, um forte vendaval destruiu completamente a nave da Igreja, restando em pé a torre e a parede frontal. “Quando na manhã do 2° dia de festas de natal, a Comunidade se reuniu para a celebração do culto, se lhe ofereceu o triste quadro da Igreja (quase) totalmente destruída e cada qual sentiu grande pesar e luto por ter sido sua igreja vítima das forças da natureza” relata o informativo “O Mensageiro” da Paróquia Evangélica de Rio do Sul. A Comunidade não se desesperou, mas mostrou uma atitude exemplar, decidindo logo pela reconstrução. Foi mais um ano e meio de muito empenho e de sacrifícios até o dia da reinauguração em 2 de junho de 1957. No dia 28 de outubro de 1961, dois meses antes da emancipação do município, foi fundada a Paróquia Evangélica de Lontras, integrada pelas comunidades de Lontras, Matador, Cotia e Pres. Nereu, agora desmembrando-se da Paróquia Evangélica de Rio do Sul.
O primeiro pastor a assumir as atividades na paróquia recém-criada foi o pastor Hans Herbert Josch, natural da Alemanha. A sua presença aqui se deve ao restabelecimento da normalidade das relações entre o Brasil e a Alemanha após a 2ª Guerra, cujo evento trouxe maus tratos e perseguição com prisões aos cidadãos brasileiros de origem alemã. Ele voltou à Alemanha em fins de 1965. Em 1966, a IECLB enviou para cá o pastor recém-formado na Faculdade de Teologia de São Leopoldo, o Sr. Guenther Rueckert. 0 seu trabalho foi interrompido por evento trágico ao entardecer do dia 13 de setembro de 1969, quando a camionete Rural da Paróquia rodou da balsa, enquanto o pastor auxiliava na travessia. Este infortúnio atingiu a família Knop com a perda da filha Ruth, a família Baade com a perda das filhas Invelde e Wally e a família católica Carturano com a perda da filha Dagmar.
Esse foi um dos acontecimentos mais pesarosos para toda a comunidade lontrense até então. Por ocasião dos 75 anos da Comunidade eram membros da diretoria: Presidente: Antônio Geyer; Vice: Fredolino Zwetsch; secretários: Alderino Kiefer e Paulo Mauerwerck; tesoureiros: Artur Knop e Alvin Kiefer; presidente da paróquia: Sr. Max Meinicke de Matador. No ano de 1977, o pastor Ulrico Sperb veio servir às comunidades da Paróquia Evangélica de Lontras. Convidado pela Paróquia Evangélica Bom Pastor de Joinville, foi liderá-la a partir de março de 1982. Ele foi muito solidário, prestando com a ajuda dos membros da Bom Pastor, auxílio aos flagelados das cheias de 83 e 84. Por seu incentivo, a Bom Pastor apadrinhou a ex-Paróquia de Lontras. As dependências da Comunidade serviram de abrigo a 20 famílias católicas da vizinhança, cerca de 80 pessoas. Em 1979, a Comunidade se dividiu, formando-se a Comunidade Evangélica de Concórdia com aproximadamente 50 famílias.
A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Lontras celebrou dia 06 de Outubro de 2013 um Culto de Ação de Graças pela colheita e Reinauguração da Igreja Apóstolo João, após mais uma reforma. Em 2016 a Comunidade Evangélica de Lontras completa 116 de atividades.
