O TÚNEL DESMORONADO DE ATAFONA – LONTRAS
Durante a década de 20 do século passado avançavam as obras de abertura do leito ferroviário da EFSC objetivando chegar com os trilhos a Lontras e Rio do Sul. As obras até Lontras demoraram cerca de seis anos, prejudicadas pelos obstáculos naturais das encostas da Serra do Mar e pelas intempéries climáticas, porém, muito mais pela constante falta de verbas, num País em crise política, o que culminou mais tarde com a Revolução de 30.
Objetivando alcançar Lontras a qualquer custo, visto que a ferrovia era um objetivo político dos irmãos Marcos e Victor Konder, o primeiro governador de Santa Catarina e o segundo Ministro de Obras e Viação, na época, estes decidiram suprimir várias obras consideradas mais caras, para que as verbas fossem suficientes para concluir o trajeto.
Assim sendo, em 1929, o trajeto Subida – Estação Victor Konder (Riachuelo) pode ser aberto ao tráfego provisório. Naquele trajeto de 20 kms, quatro túneis foram previstos para serem construídos, porém, apenas o túnel de subida, de 68 mts e o túnel de Riachuelo de 110 mts foram concluídos. Os outros dois foram suprimidos por falta de recursos e aguardariam por dias melhores e mais fartos.
Estes dias melhores e fartos começaram a aparecer por volta do final da década de 40. O município de Blumenau, sede da ferrovia, comemoraria 100 anos em 1950 e o Governo Federal prometera presentear o município com recursos especiais. A EFSC foi uma das entidades que receberam recursos, objetivando concluir o trecho Blumenau – Itajaí e a retificação de trechos problemáticos. UM DESTES PONTOS ERA A CURVA FECHADA QUE HAVIA NA LOCALIDADE DE ATAFONA, (foto montagem acima) onde deveria ser providenciado a construção de um túnel .
Ao final da década de 40, por volta de 1948, iniciou-se a construção de dois túneis, o de Morro Pelado, que teria 250 mts e o túnel de Atafona, previsto para ter 160 mts. As obras do túnel de Morro Pelado correram a contento e o mesmo pode ser inaugurado em 13 de novembro de 1954.
No entanto, no túnel de Atafona, por volta de 1952, os operários enfrentavam a extrema fragilidade do terreno e num dia foram surpreendidos com o desmoronamento completo da abobada. Ficaram ali soterrados seis operários e várias tombeiras (vagonetes basculantes).
Um sétimo operário dos que estavam em serviço neste momento sobreviveu por pura sorte: fora buscar água no rio, e quando voltou, nada mais encontrou a não ser uma montanha de entulhos a obstruir o acesso ao local das escavações.
Conforme depoimento de moradores das redondezas do ocorrido, devido a extrema fragilidade do terreno, recomendava que se evitasse a retirada dos entulhos para o resgate dos corpos, no sentido de evitar outras mortes.
Tomou-se então uma decisão drástica: os mortos ficariam onde estavam e um padre deveria ali comparecer de tempos em tempos para apaziguar as pobres almas ali soterradas.
E assim foi feito, até o passar dos anos e tudo ser esquecido. Conforme o maquinista José Pacheco, ao passar pelo túnel da Atafona, sempre tirava o quepe da cabeça em respeito aos mortos ali soterrados.
Texto baseado no depoimento do Sr. José Fernando Damásio, “seu Roberto”, que na época estava com 10 anos e morava perto do ocorrido.
Agradedimentos especiais ao Sr. Luiz Carlos Henkels pelo texto e Marcelo Frotscher pelas informações e imagens.